A arte contemporânea e sua relação com os espaços públicos nos permitem usar todas as possibilidades de materiais e processos de produção artística em uma nova dimensão crítica. Os espaços urbanos se tornaram focos principais das ações artísticas criativas e reflexivas e as praças são exemplos perfeitos.
Com a proposta de repensar a vida moderna e as relações pessoais pelo prisma das novas formas de comunicação tecnológicas, a praça perde seu papel simbólico original e muitas das suas referências na cultura popular. É exatamente em uma praça que proponho, como fotógrafo, contrastar sua função de aproximar pessoas com o esvaziamento desses espaços urbanos.
Entre vários fatores, cito, principalmente, o encasulamento social a que nos entregamos face às novas formas de comunicação, especificamente a internet com o uso de e-mails, comunicadores instantâneos, blogs e microblogs, além de outros. As relações pessoais clássicas tinham nas praças suas melhores realizações. Nas praças, as famílias passeavam, casais namoravam, amigos se encontravam, grupos propunham manifestações artísticas, crianças brincavam… Algumas dessas atividades ainda acontecem, mas nem se compara ao que já foi. Seria ela então, com seu esvaziamento e desvio de função, símbolo perfeito dos novos tempos e das mudanças sociais.
Para este vídeo produzi um conjunto de imagens fotográficas denunciando a solidão, o isolamento social e a comunicação banalizada que envolve as grandes massas. As fotos são baseadas em pessoas nas praças, mas sem se falar diretamente, sem se tocar, apenas se comunicando por intermédio dos seus computadores. As cenas incluem pessoas namorando pela web, fazendo compras online, trabalhando e estudando de forma não presencial, amigos conversando, a traição dos amantes virtuais e outras situações comuns a todos. Uma contradição deste século, distante da tradicional Ágora (a praça que era o centro da vida econômica, social, política, cultural), que foi a base de comunicação e desenvolvimento social. As fotos, expostas na própria praça, servem como um espelho provocativo de nossas atitudes face às mudanças tecnológicas e comportamentais.
A praça escolhida fica em Santa Luzia, no centro histórico da cidade, logo atrás da Casa da Cultura. Ironicamente, mesmo devendo representar bem a cultura municipal, retrata apenas a substituição acelerada de sua rica história por um espaço vazio, praticamente sem função. Apesar de ser bem cuidada, ter belos jardins e decoração colonial, vive literalmente trancada entre as grades. Quase nunca está aberta ao público, ou então aberta, porém, vazia.
A ideia inicial baseou-se em outras intervenções realizadas em espaços urbanos diferentes cuja finalidade é a mesma: provocar reflexões sobre as ações do homem, suas novas condições sociais e o impacto das mudanças tecnológicas sobre a sociedade. As obras de referência inicial são:
– Intervenção Urbana de Tom Lisboa usa o fotojornalismo para resgatar memória visual de Curitiba. Realizado em 2008, o projeto faz uma homenagem ao fotojornalismo e à sua capacidade de poder perpetuar cenas efêmeras em espaços que permanecem quase inalterados através dos anos. Promove a reinserção destas fotografias manipuladas no local onde foram originalmente tiradas. Uma maneira poética de propor o reencontro da foto do jornal com seu “antigo habitat” e de recuperar a visibilidade que circunda determinado espaço.
– REAVIVAR CHAFARIZES: uma experiência de Intervenção Urbana – A ação de levar água para os Chafarizes secos é o ponto de partida da Intervenção Urbana realizada pelo Coletivo Líquida Ação. A restauração efêmera do monumento o insere na memória viva da cidade.
– Intervenção Urbana de Sylvia Furegatti, “Frases Curtas, Pensamentos Longos” (PROJETO FLUXUS). A proposta se organiza intervindo em conjuntos de árvores espalhadas por cinco espaços públicos de Campinas, que servem de suporte para trazer à cidade mensagens extraídas da Música Popular Brasileira (MPB). Esses lugares vão exibir frases adesivadas em troncos de árvores remetendo-nos à poesia e à informação dos encontros e caminhos entrecruzados das tantas pessoas que atravessaram nossas vidas.
A escolha destas obras, ainda que por meio de diferentes intervenções, apresentam objetivos parecidos: rever valores, sentimentos, convenções, estilos de vida, progresso e a transformação acelerada pela qual passamos sempre de maneira inteligente e provocadora, tratando deste nosso mundo do século XXI.
Essa pesquisa resultou no vídeo que pode ser visto aqui: